Porque já era tempo
Este regresso da chuva - e este regresso em fúria, pelo menos aqui - agrada-me por razões diversas: porque já era tempo que chovesse assim, para arrancar o estio aos corpos e às casas, para lavar os vidros, para lavar as árvores, porque já era tempo da ilusão sumir, este verão perpétuo, este suor de incêndios, este suor das secas, porque já era tempo de ser assim, novamente, tudo embaçado e disperso.
quinta-feira, dezembro 14, 2006
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2 comentários:
Os Ombros que Suportam o Mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Carlos Drummond de Andrade
Drummond ainda vive! Lindo o texto Lu e, já publiquei. é bom viver, apesar de tudo.
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